Crente não se suicida?
>> quinta-feira, 21 de junho de 2012 –
ESTUDOS
Nunca fiz um estudo bíblico detalhado sobre suicídio, apesar de ter escrito sobre eutanásia e muito do que aprendemos sobre esta prática se aplica ao suicídio, pois em ambas situações lidamos com a valorização da vida. Mesmo assim, tenho alguns pensamentos sobre o assunto.
Alguns apontam a morte de Sansão (Jz 16. 29-31) como sendo um exemplo de um servo de Deus que se suicidou. Mas observo que a posição de Sansão não pode ser vista como normativa ou até exemplificativa da questão. Sansão era mais um prisioneiro de guerra, do que qualquer outra coisa. Ele e o país se achavam em uma situação emergencial de conflito, como descrevem os capítulos 13 a 16 do livro de Juízes. Vemos, em sua ação, não um suicídio por desespero, pelo fato de estar cego, mas um ato de um guerreiro que não hesita em sacrificar sua vida em função de uma grande vitória - o seu brado final comprova isso (“morra eu com os filisteus!”).
Uma outra passagem é Jó 6.11. Ali vemos retratado o sentimento e desespero de Jó, no qual ele aventa o suicídio. No entanto, não o faz e não segue o "conselho" dos seus amigos, apesar de clamar: "Por que esperar, se já não tenho forças? Por que prolongar a vida, se o meu fim é certo?".
O apóstolo Paulo, em certa situação, diz preferir a morte mais do que a vida (Fl 1.23-24), mas ele faz uma avaliação racional da situação e verifica que a prioridade não é o alívio de suas dificuldades, que adviria com a morte, mas a fidelidade à sua missão na terra: "Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne".
Mas e se a racionalidade, que contextualizou as observações de Jó e de Paulo estiver momentaneamente, ou permanentemente, ausente? Será que uma pessoa, crente, não pode ser levada ao suicídio, em situações como esta? Outra questão a ponderar: não temos exemplo de suicídio consciente e aprovado nas Escrituras, mas, quando alguma pessoa coloca a sua vida em risco não dizemos: "isso é suicídio" – ou seja, se alguém sabe que a vida está em risco e não faz nada para impedir o risco e preservar à vida, interpretamos como suicídio. Mas e o caso do Senhor Jesus, que mesmo sabendo que iria morrer, seguiu o caminho da morte. E tem mais - ele disse que ninguém tirava a vida dele, ele a dava voluntariamente. É lógico que temos todos os qualificativos e aspectos de expiação e substituição vicária do plano de redenção e eles nos fazem não considerar a morte de Cristo como "suicídio".
Entretanto, será que não existem outros contextos explicativos, tais como perda da capacidade de raciocínio, ou distorção da capacidade adequada de julgamento, causada por pressão intensa circunstancial, etc. que possam levar um crente a este estágio?
Não tenho as respostas, mas não encontrando uma passagem explícita, nas Escrituras, que indique que o Espírito Santo impedirá que nossa natureza pecaminosa e o pecado do mundo se concretize em tal situação, tenho que deixar a possibilidade aberta e examinar caso a caso, em vez de fechar questão e categoricamente dizer: "crente não se suicida", como sempre aprendi, desde pequeno...
Por Solano Portela