Caverna de Zedequias
>> quarta-feira, 5 de outubro de 2011 –
ARQUEOLOGIA
A descoberta
Algumas das descobertas arqueológicas mais fascinantes na Terra de Israel foram resultado de circunstâncias fortuitas. A Caverna de Zedequias é uma dessas descobertas. No inverno do ano de 1854, o Dr. James Turner Barclay (1807-1874), um distinto erudito americano, na época a trabalhar em Jerusalém, passeava com o seu filho em dia de algum sol, fora das muralhas da Cidade Velha. Estavam perto da Porta de Damasco, e o cão da família corria à sua volta, divertindo-se, aproveitando a liberdade que o momento lhe oferecia. O passeio estava a ser agradável, até que, de repente, o cão desapareceu. O Dr. Barcley chamou-o repetidamente, assobiando do mesmo modo pelo qual o animal estava habituado a reconhecê-lo, mas não obteve nenhuma resposta. Tanto ele como o seu filho continuaram à procura do bicho, sem qualquer resultado. A dada altura, junto à zona rochosa onde as muralhas estavam edificadas, o rapaz penetrou a custo numa cova – que era na verdade uma cisterna profunda que recebia as águas das últimas chuvas – e ficou surpreendido quando, lá bem do fundo da terra, ouviu o seu cachorro a ladrar. Entrando da mesma forma que o filho, o Dr. Barcley pôde perceber que se encontravam numa caverna – escura, e ao que parecia, enorme. Desta forma, ao cão aventureiro do Dr. Barcley é atribuída a redescoberta da maior gruta artificial alguma vez encontrada em Israel. Voltando na noite seguinte, desta vez com meios de exploração, James Turner Barcley percebeu imediatamente a dimensão e importância daquele lugar. E dias depois, apresentou ao mundo a Caverna de Zedequias.
A caverna esquecida
Embora a opinião não seja consensual, crê-se que foi durante a construção das muralhas da cidade por Solimão II (1495-1566), o Magnífico, Sultão do Império Otomano, que a Caverna de Zedequias foi bloqueada com grandes pedras, de modo a impedir que se tornasse num elo fraco na estrutura de fortificações da cidade. Permaneceu selada até à sua redescoberta no inverno de 1854. Durante o Mandato Britânico (1917-1947) foi aberta ao público. Durante a II Guerra Mundial foi adaptada como abrigo, para a eventualidade de bombardeamentos alemães ou italianos. Sob o governo Jordano foi novamente fechada, e reaberta depois da Guerra dos Seis Dias (1967), já sob controle israelita.
Aspecto e dimensões
A gruta é, na verdade, uma enorme pedreira de onde foram retiradas, durante anos, as pedras necessárias à construção de grande parte dos edifícios nobres da Cidade de Jerusalém. Como já pudemos perceber, a boca da gruta situa-se muito perto da Porta de Damasco, junto às rochas que servem de fundação à muralha da cidade, estendendo-se por baixo dela, para sul. Os pilares que se observam não são senão partes da caverna de onde não foi extraída qualquer matéria-prima, de modo a servirem de suporte aos milhares e milhares de toneladas que lhe estão por cima. A gruta tem uma área de 9.000 metros quadrados. Mede 230 metros de comprimento (ainda que galerias recentemente descobertas quadrupliquem este valor), e excede os 100 metros de largura máxima. A altura média é de 15 metros, ou seja, a correspondente a um prédio de 4 andares. A espessura de rocha que vai do tecto da caverna até às fundações da cidade acima de si, é de 10 metros.
A pedreira subterrânea mais importante de Israel
A proximidade da pedreira em relação à cidade, e o facto de se encontrar numa gruta, provendo aos trabalhadores uma defesa natural contra o sol escaldante do verão, deram a este lugar argumentos suficientes para a transformarem na pedreira subterrânea mais importante do país. Por outro lado, a qualidade da pedra dali retirada é excelente. Grande parte pertence ao tipo que em árabe se designa por "Melekeh", ou seja, "real". E fazendo jus ao seu nome, ela foi realmente usada na construção dos edifícios reais da cidade, sendo o Monte do Templo o exemplo maior.
Os primeiros trabalhadores da pedreira
Quem foram os primeiros trabalhadores destas pedreiras? Teriam sido os construtores do rei Salomão? A Bíblia relata: "Tinha também Salomão setenta mil que levavam as cargas e oitenta mil que cortavam nas montanhas. Afora os chefes dos oficiais de Salomão, os quais estavam sobre aquela obra, três mil e trezentos, que davam as ordens ao povo que fazia aquela obra. E mandou o rei que trouxessem pedras grandes e pedras preciosas, pedras lavradas, para fundarem a casa." – I Reis 5:15-17
Estes versículos desde sempre intrigaram os eruditos. Alguns, sugeriram mesmo que a proximidade do Monte Moriá e Ofel com a Caverna de Zedequias terá levado Salomão a utilizar preferencialmente esta fonte de matéria-prima, de fácil acesso e transporte para as suas construções. E é dessa forma que surge o outro nome pelo qual a caverna é conhecida: As Pedreiras do Rei Salomão. No entanto, nada disso foi provado até agora.
A época de actividade da pedreira
Como vimos, há quem advogue que o local está ligado às construções salomónicas. Mas, na verdade, situarmos a actividade desta pedreira no Período do Primeiro Templo requer provas mais substanciais que até ao presente não se encontram ainda disponíveis. O mais provável é que ela tenha começado a ser utilizada no Período do Segundo Templo, mais propriamente durante as enormes obras de construção levadas a cabo pelo Rei Herodes. Certo é que a dada altura a pedreira foi abandonada, e depois disso o acesso foi bloqueado. Crê-se, como atrás foi dito, que isso aconteceu durante a construção das muralhas já no século XVI (1535-1538), por Solimão. A seguir, a instabilidade da vida em Israel e o tempo, encarregaram-se de fazer esquecer a sua localização.
Mas sabemos, e isso sem qualquer sombra de dúvida, quando foram cortadas as últimas pedras desta pedreira. Aconteceu no século XX, em 1904, precisamente 50 anos depois da redescoberta de Barclay. Os Turcos, então em Jerusalém, erigiram na Porta de Jafa uma torre com um relógio, monumento que fazia parte de uma série de outros similares espalhados por todo o Israel. A pedra dessa torre veio da Caverna de Zedequias, que foi desmantelada nos anos 20, já durante o Mandato Britânico.