Estêvão teria errado ao citar que "setenta e cinco" pessoas teriam ido ao Egito, enquanto a passagem de Êxodo afirma terem sido "setenta" pessoas?
>> quarta-feira, 26 de setembro de 2012 –
ESTUDOS
"Estêvão estava diante de uma audiência judaica cuja primeira língua
era o grego"
Como leitores constantes da Palavra de Deus, podemos perceber que várias passagens do A.T. são citadas no N.T. e algumas delas apresentam alguma aparente contradição quando lemos superficialmente os textos, mas ao analisarmos melhor, descobrimos que a aparente contradição acrescenta ou omite detalhes. Um exemplo disso é quando Estêvão cita que o povo de Israel foi escravizado e maltratado por quatrocentos anos (At. 7:6), arredondando o número.
Neste caso, não podemos pensar que Estêvão teria negligenciado o número exato de anos que seria de quatrocentos e trinta anos como cita Êxodo 12:40, pois as Escrituras afirmam que Estêvão era homem cheio de fé e do Espírito Santo e de poder (At. 6:5-8) ninguém podia resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava (At. 6:10).
Levando em consideração tais afirmações, entendemos que Estêvão era um profundo conhecedor das Escrituras, isso é confirmado pelo seu depoimento e defesa a partir do capítulo 6 e no capítulo 7 de Atos dos Apóstolos. Portanto, o que ele fez foi apenas arredondar o número. Algo semelhante ao que fazemos substituindo os anos exatos como "1985" por década de 80.
Voltando a pergunta inicial. Por que Estêvão cita "setenta e cinco" pessoas, se o texto ao qual ele se referiu que foi Êxodo 1:5 diz que eram "setenta" o número de pessoas que desceram ao Egito?
De acordo com Êxodo 1:5: "Todas as almas, pois, que procederam dos lombos de Jacó, foram setenta almas; José, porém, estava no Egito." Este texto diz que foram apenas "setenta" descendentes que desceram ao Egito com Jacó. Mas ao relatar o incidente em Atos 7:14, ele dá o número de "setenta e cinco" pessoas. Isso parece uma contradição, não parece?
Estêvão na ocasião de seu discurso estava cheio do Espírito Santo (At. 7:55), e isto por si só já indica que não poderia ter se enganado. Esta diferença pode ser explicada pelo fato de que Estêvão estivesse citando com base na Septuaginta (a versão grega do A.T.), que afirma: "Todas as almas descendentes de Jacó eram setenta e cinco" (Êx 1:5); e não com base na versão hebraica, que afirma: "Todas as pessoas, pois, que descenderam de Jacó foram setenta; José, porém, estava no Egito". A diferença surge em função da maneira como os totais são calculados.
Jacó tinha doze filhos. Acrescentando-se os seus netos e bisnetos, o total é 66. Acrescentando-se Efraim e Manasses, que nasceram de José no Egito, o total chega a 68. Com Jacó e sua esposa dá 70, como o texto hebraico registra. A Septuaginta, contudo, começando com os 12 filhos de Jacó, acrescenta seus 54 netos e bisnetos, que dá 66; acrescenta ainda os sete descendentes de José, que provavelmente eram filhos de Efraim e Manasses, e que nasceram algum tempo depois da migração de Jacó ao Egito, mas antes da sua morte. A Septuaginta omitiu também Jacó e sua mulher. Isso dá um total de 75 pessoas, como Estêvão mencionou na passagem de Atos.
Na Septuaginta no texto de Gênesis 46:20 temos a explicação da aparente discrepância: neste versículo a Septuaginta dá os nomes de quatro netos e um bisneto de José, ao passo que o texto massorético não menciona nomes. Outro detalhe que ocorre é que na ocasião Estêvão estava diante de uma audiência judaica cuja a primeira primeira língua era o grego, por isso seguiu a Septuaginta em vez do texto hebraico para o número de pessoas na família de José - setenta e cinco ( o texto hebraico padrão posterior traz setenta; um texto hebraico dos Manuscritos do Mar Morto concorda com a Septuaginta dando o número de setenta e cinco pessoas).
TEXTO HEBRAICO TEXTO GREGO
Jacó e sua esposa 2 Não contados
Filhos de Jacó 12 12
Netos e bisnetos de Jacó 54 54
Filhos de José:
Efraim e Manassés 2 2
Outros descendentes
de José no Egito Não contados 7
TOTAL 70 75
Bibliografia:
GEISLER, Norman; HOWE, Thomas. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e "Contradições" da Bíblia. 1ª Ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999.
STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento: 2ª Ed. Belo Horizonte: Editora Atos, 2008
KEENER, Craig S. Comentário Bíblico Atos. Novo Testamento: 1ª ed. Belo Horizonte: Editora Atos, 2004.
fonte: Ouça a palavra do Senhor
Parabéns! Este esclarecimento foi muito importante para mim pela riqueza de detalhes.
Deus abençoe sempre!