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O espírito e o caminho da eternidade no Gênesis



O espírito e o caminho da eternidade no relato de Gênesis

A passagem de Gênesis 6.3 é muito popular nos meios cristãos. Todavia, propomos aqui uma nova abordagem desse texto, analisado a partir do original hebraico. O versículo em questão diz o seguinte: “Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos” (Gênesis 6.3 – Almeida Revista e Atualizada).

Em hebraico, porém, o texto fica da seguinte maneira: vayyo’mer Adonay lo’-yâdhon ruchiy bhâ’âdhâm le`olâm beshaggam hu’ bhâsâr vehâyu yâmâyv mê’âh ve`esriym shânâh

O Espírito de Deus lutou com o homem através da pregação de Noé (1 Pedro 3:19), mas o esforço foi em vão na maioria dos casos. O homem se corrompeu em grau irreversível, de modo que a luta do Espírito com a humanidade não produziu resultados. Por esta razão, o Senhor promulgou um julgamento, que ocorreria após cento e vinte anos. Por esta razão, vemos que Deus prorrogou o dia do julgamento para dar mais tempo ao homem para que o homem se arrependesse. A justiça clamava pela punição, mas a misericórdia de Deus pedia mais tempo para que mudassem de vida. Enquanto a misericórdia prevalecia, Deus adiava o julgamento.

Seguindo esta linha de raciocínio, podemos fazer uma nova tradução do versículo: “E aquele que existe ordena: O meu caminho não estará no terroso para orientá-lo à porta da vida, que conduz à eternidade, pois tem negligenciado caminhar em direção ao manancial, contemplando a carne. O mar que traz o terror chegará daqui a cento e vinte anos” (Tradução Daniel Lago).


Explicamos a tradução acima. A palavra hebraica para “espírito” é ruach, que procede da raiz rach, que significa “jornada” ou “caminho”. Por sua vez, a expressão lo’-yâdhon (traduzida por “não agirá”) é composta pelo o radical diyn, que significa “contender”, “julgar”. Este radical, porém, vem do termo dan, que significa “juiz”. Mas a palavra dan é formada pela letra daleth (que significa “porta”) e pela letra nun (que significa “continuidade”). Por isso, o termo dan, significa, literalmente, “a porta da continuidade” ou “a porta da vida”.

A expressão beshaggam é fomada pela união da preposição be (“em”), unida à expressão shal (“pois”, ou “negligenciar”) com o termo gam (“junto”, ou literalmente “pessoas reunidas ao redor do poço à procura de água”, isso porque é formado pelas letras guímel, que significa “pé”, e mem que significa “água”).

O termo hebraico para “ele” é hu’, palavra cuja letra hei remete a uma atitude de contemplar o outro. Por fim, a expressão yâmâyv, traduzida por “os seus dias”, vem de yom, que significa “dia”, mas está relacionada com hum, que significa “pranto”, “tumulto”, “caos” e “destruição”. Isso porque, para os antigos hebreus, o mar era um local perigoso e desconhecido.

Assim, podemos ler o texto de Gênesis 6.3 como o anúncio da condenação divina àquela geração dos tempos de Noé, que buscava somente os prazeres da carne. Deus anuncia que a punição viria em cento e vinte anos, número que mostra Deus esperando que o povo se arrependesse, pois o número quarenta (que simboliza um período de correção) aparece aqui multiplicado por três, o que indica uma tripla porção de misericórdia da parte de Deus. 

Além disso, quando terminou o período de cento e vinte anos, Deus ainda deu mais um tempo de sete dias para que o povo se arrependesse de seus maus caminhos (Gênesis 7.4). Foi por isso que o Espírito foi retirado deles, pois o sopro de Deus indicava o caminho que se devia seguir, mas o povo ia pelo caminho oposto.








Referências Bibliográficas:

 BIRNBAUM, S. The Hebrew Scripts. Part One: The Text. Leiden: Brill, 1971. Part Two: The Plates. London: Palaeographia, 1954‐1957.

BROWN, DRIVER AND BRIGGS. A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament. Oxford: Claredon Press, 1974.

GESENIUS, W. Hebrew Grammar, Rev. By Kautzch and Cowley. Oxford, Clarendon Press. 1963.

 KILPP, Nelson et alii. Dicionário hebraico‐português e aramaico‐português. 8 ed.São Leopoldo/Petrópolis: Sinodal/Vozes, 1997.

 MCCARTER, P. K. Textual Criticism: Recovering the Text of the Hebrew Bible. Guides to Biblical Scholarship. Philadelphia: Fortress, 1986.

 The Leningrad Codex: A Facsimile Edition, ed. David Noel Freedman et al. Grand Rapids: Eerdmans; Leiden: Brill, 1998.

Daniel Lago é professor substituto de Filosofia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Lingüística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), graduado em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com extensão em filosofia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).


fonte: cpantiguidade

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