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Cidade de Tel Arsuf



A CIDADE MEDIEVAL DE ARSUF

Apollonia foi uma cidade costeira no Mediterrâneo Oriental, localizada na planície de Sharon sobre uma colina de areia fossilizada (kurkar) a cerca de 30m acima do nível do mar. Sua localização junto a um ancoradouro natural sempre foi muito favorável a ocupações por se tratar de uma região propícia à comunicação comercial e cultural entre as culturas mediterrâneas e as civilizações asiáticas e africanas.


Localizada a 34 km ao sul de Caesarea Marítima, antiga capital da Província Palestina. O sítio arqueológico de Apollonia-Arsuf encontra-se atualmente sob o domínio da moderna cidade de Herzliya, a cerca de 15 km ao Norte de Tel-Aviv, Israel.




Muitos autores muçulmanos, do século IX d.C em diante, mencionam o nome e o lugar de Arsuf. Al-Muqaddasi, nascido em Jerusalém, menciona Arsuf em sua lista das vinte cidades principais da fase inicial muçulmana na Palestina. Ele também acrescentou, que embora em seu tempo (985), Arsuf fosse tão pequena quanto Jaffa, era poderosamente fortificada e densamente povoada (Le Strange, 1980:399) . Arsuf aparece em listas similares, compiladas por Ibn Rusta (no início do século X) e por Yaqut (1225 a.C) e no famoso mapa de al-Istakhri de 925 d.C (El’ad, 1982:146-167) .




De acordo com al-Muqaddasi, Arsuf era considerada uma Ribat, ou seja, uma cidade costeira que fazia fronteira nos domínios islâmicos, servindo como um centro de contenção para cativos bizantinos. Nesta condição a cidade fez parte da organização do sistema de defesa da costa palestina. As altas torres nas cidades costeiras, existentes também em Arsuf, serviam de postos de observação e estações de sinalização usando fumaça durante o dia e fogo à noite, para manter contato com as guarnições do interior. Ibn Khurdadhbih na metade do século IX d.C, realizou uma detalhada descrição das principais artérias de tráfico na Palestina. Ele menciona Arsuf, entre Caesarea e Joppa ,como sendo uma das principais rotas de conexão da Mesopotâmia com o Egito (El’ad, 1982:146-167). O trovador templário Ricaut Bonomel, na segunda metade do século XIII, escreveu um poema "amargo" onde queixava-se que Deus dormiu enquanto os muçulmanos triunfavam em Arsur (2) e que Ele pareceu agradar-se com a derrota dos cristãos (Poesi, 1931:222-224). O escritor muçulmano Abu al-Fida escreveu em 1321 d.C, definindo: "Arsuf está na Filistéia, foi uma populosa cidade e tinha um castelo. Estava na costa do Mar Grego, a 12 milhas de Ar-Ramlah, 6 milhas de Yafa e 18 milhas de Kaisariyyah. Tinha um mercado e era protegida por uma muralha; mas atualmente a cidade está em ruínas e inabitada (Le Strange 1890: 399).




Modernamente, o sítio foi identificado pela primeira vez como Apolônia por Reland (1714) no início do século XVIII. No final do século XIX descrições das ruínas de Apolônia foram mais detalhadamente registradas pela equipe inglesa do Palestine Exploration Fund (Conder e Kitchener, 1882, p. 137- 140), e pelos viajantes franceses Victor Guérin (1875) e Clermont-Ganneau (1897).


As primeiras escavações no sítio foram de salvamento executadas pelo Israel Department of Antiquities, em 1950, na área manufatureira dos períodos romano e bizantino ao Norte; e nos anos 1962 e 1976 em uma igreja bizantina ao Sudoeste (Roll, 1996).




A partir de 1977, 13 sessões de escavações foram executadas sob a coordenacão do prof. Dr. Israel Roll, as 3 primeiras sessões foram ainda executadas com os auspícios do Israel Department of Antiquities e com a assistência do arqueólogo Etan Ayalon; da 4ª a 11ª missão, as escavações foram executadas sob a curadoria do Instituto de Arqueologia da TAU com a assistência da municipalidade de Herzlyia e da American School de Kefar Shemariahu (Roll, 1996); a 12ª seção de escavação, a Missão AP 98 XII, ocorrida na área E do sítio, foi realizada sob a curadoria do Instituto de Arqueologia da TAU contando com a coordenação conjunta do prof. Francisco Marshall e com a assistênia da equipe brasileira do Projeto Apolônia e da municipalidade de Herzlyia (Rech, 1999) e a 13ª ocorreu entre novembro e dezembro do ano passado, dando continuidade na área de escavação das estruturas romanas e no castelo cruzado. O estudo do material recebido sobre a última escavação realizada na área medieval despertou o interesse para a formulação deste projeto de pesquisa..




O nome Apolônia, dado à cidade em homenagem ao deus Apolo, na fase de dominação helenística, perdurou na fase romana e bizantina (Roll, 1992: 298-299). Durante a fase de ocupação bizantinam, Apollonia também foi conhecida oficialmente com o nome de Sozusa. A mudança de nome para Arsuf (retorno ao nome original fenício - Arshof) deu-se após a conquista árabe em 636 d.C. Posteriormente os cruzados ao dominarem a cidade, em 1101 d.C, a chamariam de Arsur (Roll and Ayalon, 1993: 72-75).




Pode-se citar como algumas das descobertas referentes ao período medieval: um sûq (área destinada a um mercado árabe) e uma muralha protegida por um fosso, relativos ao período de ocupação inicial muçulmana, um castelo cruzado e seu porto artificial, moedas, lamparinas e material cerâmico diverso, fora as descobertas realizadas nas áreas destinadas ao estudo dos períodos romano e bizantino ( Roll, 1996:596) .


O maior nível de prosperidade e expansão comercial de Apolônia, deu-se na fase bizantina, no século VI e início do século VII d.C, quando emergiu como principal centro comercial, produtor e marítimo do Sul da Planície de Sharon. Era um centro urbano e escoadouro pelo mar, além de local de vários assentamentos rurais da Samaria Oeste e Judéia.




Quando da conquista muçulmana em 636 d.C, perpetrada pela expansão árabe, Apolônia era uma próspera cidade bizantina, com aproximadamente 100 acres de área. A grande quantidade de moedas e cerâmica romana e bizantina encontradas na superfície desta área podem confirmar esta informação (Roll, 1996:595). Com a dominação árabe, Apolônia passa por modificações. Entre 636 e 638 d.C seu tamanho é diminuído, ela é reestruturada em uma área menor e mais densamente povoada. Uma hipótese levantada pelo prof. Dr. Israel Roll para que isso tenha ocorrido, foi a expulsão de judeus e samaritanos da cidade, uma vez que escavações arqueológicas indicam o decréscimo de vestígios dessas culturas após a conquista (Roll and Ayalon, 1987:72-75).




Ainda segundo Israel Roll, possivelmente entre 685 e 705 d.C durante o califado de Abd el-Malik (o mesmo califa omíada que mandou construir o "Domo da Rocha em Jerusalém"), houve nova modificação nas estruturas de Arsuf. A cidade diminuída a 1/5 (um quinto - 20 acres) de seu tamanho original, pode ser fortificada, com uma muralha de um metro de espessura, reforçada em sua face exterior por contrafortes e um fosso escavado em sua frente. Um portão protegido por duas torres semicirculares foi erigido no lado Leste do sítio. A muralha foi construída devido ao medo de um ataque da marinha bizantina e ao constante avanço e recuo entre as forças bizantinas e muçulmanas em terra (Roll, 1996:599) .


A muralha tem sua datação relativa atestada por materiais datáveis, descobertos sobre os pisos de duas casas junto ao muro, nas áreas E e H (3). Na área B, um complexo de construções foi encontrado de ambos os lados de uma estrada com cerca de dois metros de largura e orientada no sentido Norte-Sul. Oito fases de ocupação cobrindo todo o período inicial muçulmano, foram distinguidas no chão da estrada e nas construções, que indicam ser um sûq (mercado árabe a céu aberto). Escavações realizadas em 1977 constataram uma grande quantidade de ossos suínos em várias lojas do mercado, o que indica a criação das mesmas para atender aos novos habitantes cristãos, uma vez que a religiões muçulmana e judaica não permitem a ingestão deste tipo de carne ( Roll and Ayalon, 1987:61-76) .




No tocante aos estratos evidenciados, constatou-se que os edifícios do estrato VIII, isto é, da Alta Idade Média, apresentam-se como uma continuidade do período bizantino. No estrato VII, toda a área foi reconstruída com longas salas uniformes; estas salas continham fornos e lareiras, serviam mais como tendas de alimentos e lojinhas, caracterizando um típico mercado de rua do Oriente muçulmano. A continuação da estrada e suas estruturas foram descobertas na área C (4), ao Norte. O que indica que toda esta parte da cidade foi submetida a um amplo planejamento urbano, provavelmente ao mesmo tempo em que a muralha da cidade foi erigida. O mercado permaneceu em uso no estrato VI e então sofreu uma violenta destruição, talvez durante os motins de 809 d.C, que estouraram na região depois da morte do califa abácida Harun er-Rashid. No estrato V, referente ao século IX, o mercado foi reconstruído com algumas alterações, agora as lojas eram menores e foram feitos pátios internos adicionais. O mercado de rua continuou em uso nos estratos IV a I, referentes aos séculos X e XI d.C, mostrando modificações nas estruturas e materiais de construção. Para este período foram achadas grandes quantidades de ferramentas e pregos, que indicam o uso extensivo de madeira para construção de casas e barcos (Roll and Ayalon, 1987).


Na conquista islâmica da Palestina iniciada em 634 d.C a maioria das cidades se entregaram "baixo termo" e sem resistência. Esta atitude não gerou destruições ou perturbações permanentes nas cidades conquistadas. No que se refere à primeira metade do século VII d.C, época da invasão e dominação muçulmana, Apolônia-Arsuf não apresenta indícios arqueológicos de luta ou destruição, enquadrando-se possivelmente no grupo das cidade não resistentes (Schick, 1998:75-76) .




As casas de Arsur eram construídas de blocos de arenito decorados, unidos com barro e rebocados, tinham soleira e ombreira. Uma casa com diversos quartos, com andar superior suportado por arcos, foi descoberta na área E. Um esgoto feito de ladrilhos, que desaparecia sob o chão de um dos quartos, reaparecia em um buraco esculpido na parte inferior do muro, servindo de descarga para o lado de fora da muralha da cidade (Roll, 1995:78). Uma outra construção mais simples veio a luz na área H, e constituía-se apenas de uma série de quartos quadrados. As escavações nas áreas B, C e D (5) revelam que o centro da cidade foi principalmente uma área aberta, pavimentada alternadamente com ladrilhos e chão rebocado, que pode ter servido como local de reunião para a população rural dos arredores em um caso de perigo de ataque inimigo (Roll, 1996:600-601) .




Em outubro de 1187, o sultão Saladino, impulsionado pela completa derrota sofrida pelo exército franco na batalha de Hattim, perto de Tiberíades, aproveita a fraqueza dos invasores e reconquista Jerusalém para o Islã, provocando a reação do Ocidente e dando início à Terceira Cruzada; nesta mesma data Saladino reconquista também a cidade de Arsur, que volta a ser dominada e povoada pela população muçulmana. Quatro anos depois, em 1191, com a famosa Batalha de Arsuf (6), que teve lugar próximo à cidade, o exército cruzado liderado pelo rei inglês Ricardo Coração de Leão, derrotou Saladino e reconquistou Arsur (Grousset:1965). Sob domínio franco a cidade sofreu novas modificações estruturais. No século XIII, em 1241, a mando de João II de Ibelim, foram construídos um porto artificial e um castelo a beira mar sobre uma colina, ambos ao Norte da cidade.


Os estudos referentes à cultura material revelaram que 90% dos recipientes cerâmicos encontrados eram de louça importada do Chipre, coloridas e envernizadas conhecida como "louça cipriota do século XIII". As cerâmicas do Norte da Síria e do Sul da Itália e o tesouro arqueológico de billions de prata e ducado de ouro veneziano encontrados junto com moedas de prata otomanas no mercado da cidade, evidenciam o entrosamento de Arsur nas rotas comerciais cruzadas dominadas pelos comerciantes genoveses, venezianos e pisanos (Boas, 1998).




Em 1261, a cidade e o castelo do senhorio de Arsur são arrendados pelos Barões Ibelinos (também senhores de Jaffa e Beirute) à ordem dos Hospitalários. Um selo encontrado em escavações, apresenta o desenho de uma fortaleza (com donjon, torres e portão) e uma inscrição designando "Balian d’Ibelin segneur d’Arsur" (Roll, 1996:602). O barão Balian III, Ibelino era o senhor de Arsur e filho de João Ibelino, chefe dos barões da Terra Santa. Arsur deve ter se tornado senhorio destes barões, entre 1230 e 1243, época em que os Ibelinos travaram uma luta de conquista do litoral e portos da Terra Santa, contra os Imperiais, ordens de nobres leais ao poder do Imperador Frederico II (Grousset, 1965). Com os vestígios das estruturas arquitetônicas e o desenho contido no selo, foi possível uma reconstituição gráfica aproximada de como era o castelo de Arsur.


Escavações arqueológicas comandadas pelo prof. Dr. Israel Roll, constataram que o castelo incluía um pátio, rodeado por um alto muro interno, reforçado por torres semicirculares e quadradas, ao redor deste existia um baixo muro exterior e cercando os dois muros havia um fosso profundo e fortificado por uma série de muros de retenção. Do lado Oeste da fortaleza, um donjon octogonal, suportado por uma estrutura abobadada, foi parcialmente escavado. Do lado Leste uma longa sala com muro ao redor foi descoberta, esta deve ter servido de capela do castelo. Na base da fortaleza, na costa marítima, foi construído um pequeno porto, sobre as bases do porto bizantino abandonado (Grossman, 1997a:80), com molhes e duas torres que entravam 35 metros no mar. Um túnel conduzia da fortaleza ao porto, outro conduzia do Sul do pátio ao fosso, o qual apropriadamente permitia surpreender um ataque inimigo (Roll and Ayalon, 1987:61-76) . A destruição ao chão deste castelo por Baybars é atestada pelas descobertas arqueológicas de pedras de catapultas (ou balistas), densas camadas de incêndio e por enormes pedaços das muralhas do castelo que foram derrubados de cima da colina na beira da praia (Roll, 1995:77).













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