quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Hermenêutica de Isaías 7:14-16 (Emanuel)




Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.
Manteiga e mel comerá, quando ele souber rejeitar o mal e escolher o bem.
Na verdade, antes que este menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra, de que te enfadas, será desamparada dos seus dois reis. Isaías 7:14-16
לאונמע ומש תארקו ןב תדלויו הרה המלעה הנה
(hinneh, ha almah harah, vê-yolêdet ben vê-kara’t shemô Immanuel).

Isaías entrega a mensagem de Deus a Acaz e lhe diz para pedir um sinal para confirmar que a profecia é verdadeira (7:11). Acaz se recusa, dizendo que ele não testará Deus (7:12). Isaías responde que Acaz receberá um sinal mesmo que ele não peça um, e o sinal será o nascimento de uma criança, e a mãe da criança lhe dará o nome de Emanuel (7:13-14); quando a criança "souber rejeitar o erro e escolher o que é certo" (isso é, tiver idade suficiente para distinguir o bem do mal), ele estará comendo coalhada e mel e Efraim e a Síria serão destruídos. (7:15-16)

Um ponto de vista leva a "criança" á nascer como Ezequias, o bom e justo rei. Mas ele provavelmente teria nascido anos antes deste oráculo. Outra visão é levar a criança como o filho de Isaías mencionado no capítulo 8. Isto tem um certo apelo, pois a redação de Isaías 8:1-4 é semelhante a de Isaías 7:14, essa criança é chamada de sinal em 08:18 , Emanuel é repetida duas vezes no capítulo 8, e a vista nos daria o encerramento, uma identidade na passagem do Velho Testamento.


Nesta visão seria necessária a "jovem" ou "virgem" ser madura para o casamento para ser a esposa do profeta, que já tinha um filho, que no caso fica entre 13 a 16 anos. Algumas pessoas que têm essa visão argumentam então que Isaías poderia ter se casado de novo.
Outra visão é que alguma jovem princesa (a virgem na época do oráculo) que é desconhecida para nós, mas conhecida no tribunal de repente se casou e teve um filho como um sinal de que a dinastia iria continuar. Isso se encaixa muito bem com o oráculo, mas o ponto fraco é que não há encerramento. Mas, claro, não há fechamento de qualquer maneira, até porque o profeta nunca diz quem é.

A palavra “sinal” (hebr. ’ôt) “requer um cumprimento razoavelmente próximo; uma predição pode ser feita para o longo prazo, mas um sinal é por definição um sinalizador na situação contemporânea que aponta para um evento mais distante”. “Nenhuma exegese natural pode aplicar o v. 16 a um futuro muito distante” “Parece provável, embora não certo, que a construção hebraica sugira que Isaías estava se referindo primeiramente a uma jovem já grávida; praticamente a mesma construção ocorre em Gn 16.11”.

A objeção significativa em relação a respeito desta passagem em particular, se encontra no termo “virgem”, como as nossas traduções tradicionalmente vertem. No original hebraico de Isaías 7:14, a palavra almah significa uma moça já em idade de ter filhos mas que ainda não havia tido nenhum e que poderia ou não ser virgem. A tradução grega, porém, traduziu almah por parthenos, que significa "virgem".
המלעf., cs. תומלע: mulher jovem (Dicionário Hebraico-Português/Aramaico Português – Sinodal/Vozes, pg. 181)

Como pode-se perceber, o termo almah refere-se não tecnicamente à uma “virgem”, mas sim, à uma “jovem mulher” em idade de se casar, pois o hebraico tem uma palavra especifica para descrever uma virgem: esta palavra é הלותב (betulah)!
Por que Isaías usa o termo “jovem” e não “virgem” ?
Pelo simples fato de que a mulher que já concebeu, não pode obviamente ser mais chamada de “virgem”! Fosse essa a intenção do profeta, ele não teria usado “almah”, mas sim, “betulah”. Isaías conseguia raciocinar melhor que todo o cristianismo, pois não via lógica numa “virgem” concebendo e sendo mesmo após a concepção ainda tratada como “virgem”!

A expressão hebraica: הִנֵּ֣ה הָעַלְמָ֗ה הָרָה֙ וְיֹלֶ֣דֶת בֵּ֔ן וְקָרָ֥את, é traduzida literalmente: “Eis a Jovem [estará] grávida, e dará a luz um filho, e chamará." Elas estão na locuções estão no tempo presente e furuto proximo e não a longo prazo. A partícula introdutória “ hinnēh”, que segundo Franz Delitzsch, sempre quando usada pelo profeta Isaías, é para introduzir acontecimentos futuros próximos. קראת não é segunda pessoa, mas terceira, e é sinônimo de קראה (de acordo com Ges §74 Anm 1...).

O versículo é tão exclusivo para aquele tempo, que não há qualquer pista que se deveria esperar um outro Emanuel que nasceria de uma virgem. Em que parte desses textos de Isaías seria possível observar uma “dica” para se identificar o Messias? Nada nos versículos demonstra o profeta apontando para a identidade de qualquer redentor universal. Observa-se uma linguagem bem geográfica e limitada, algo que se referia apenas àquele povo e tempo.


Aqueles que argumentam que os verbos estão no futuro como “dará um sinal”, “ficará... grávida” e “dará à luz”, podemos dizer que existe o futuro imediato. Podemos falar usando os verbos no futuro para algo que vai ocorrer amanhã, uma semana depois, um mês depois. Será que toda vez que usamos os verbos no futuro queremos dizer que é algo que ocorrerá séculos depois? Será que toda vez que usamos os verbos no futuro estamos fazendo uma profecia? Isaías usa os verbos no futuro porque em pouco tempo a jovem judia iria ter uma criança que desenpenharia uma papel no seu ministério. Isso é algo tão claro em suas palavras e intencionalidades que os versículos seguintes dizem:
Ele comerá manteiga e mel pelo tempo em que souber rejeitar o mau e escolher o bom. Pois antes que o rapaz saiba rejeitar o mau e escolher o bom, o solo dos dois reis de que tens um pavor mórbido ficará completamente abandonado. Yahweh fará vir contra ti, e contra teu povo, e contra a casa de teu pai, dias tais como nunca vieram desde o dia em que Efraim se afastou de junto de Judá, a saber, o rei da Assíria. (Isaías 7:16, 17)


Se a criança da profecia era Jesus, como essas palavras se aplicariam à um Ser perfeito, filho de Deus: “{...} antes que o rapaz saiba rejeitar o mau e escolher o bom”? A palavra נער (hebr.: na'ar) usada na profecia de Isaías ocorre cerca de 239 vezes no Antigo Testamento. Ela significa “garoto”, “jovem” e “servo” (TWOT). Segundo o Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon a palavra hebraica pode se referir desde uma criança por nascer até um jovem com 17 anos de idade. O único relato que temos de Jesus jovem é com 12 anos, onde ele já dava aula sobre a lei de Deus no templo. (Cf. Lucas 3:46) Dessa forma, as expressões que são usadas para se referir ao menino da profecia não se enquadram no jovem Jesus, pois o mesmo era um Ser perfeito, celestial e filho de Deus, segundo o mito bíblico, claro.


Logos depois de descrever o nascimento e as características do menino, o profeta diz que “{...} o solo dos dois reis de que tens um pavor mórbido ficará completamente abandonado. Yahweh fará vir contra ti, e contra teu povo, e contra a casa de teu pai, dias tais como nunca vieram desde o dia em que Efraim se afastou de junto de Judá, a saber, o rei da Assíria.” Isso é o contexto da profecia de Isaías 7:14. Não fica claro, então, que nada tem a ver com o Jesus de séculos depois? O próprio contexto social descrito aqui na profecia e totalmente diferente do contexto em que Jesus nasceu.
Além do mais, se Isaías 7:14 está se referindo à uma virgem que dará luz, e uma vez que os cristão, em geral, concordam que essa profecia teve um cumprimento naquele tempo em Israel, isso faria da esposa de Isaías uma virgem, o que não seria conveniente para o Cristianismo. Além disso, Jesus não teria sido o único nascido de uma virgem, assim como sem pecado. Historicamente, o texto diz que uma jovem judia daria luz à uma criança que seria um sinal profético para o Israel daquele tempo.

É visivelmente claro que o escritor do Evangelho de Mateus, na tentativa de criar um mito sobre uma pessoa histórica, i.e Jesus, quis encaixar o nascimento virginal, característica sempre presente em mitos de heróis, nas profecias do Antigo Testamento. Como o mito cristão deveria estar em harmonia com os textos do A.T, o escritor tentou harmoniar Isaías 7:14 com a ideia mitológica do nascimento virginal.

Concluímos assim, que Isaías não tinha em mente nenhuma profecia que se cumpriria no Messias por meio de um nascimento milagroso.

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